Perdendo o fio da meada

ambiguidades e contradições na teoria do realinhamento

Autores

  • Lucio Rennó
  • Thiago Moreira da Silva

Palavras-chave:

Realinhamento Eleitoral, Lulismo, Identificação Partidária, André Singer, Eleições

Resumo

A teoria do realinhamento vem ganhando força como chave explicativa dos desdobramentos eleitorais ocorridos no Brasil recentemente. O fenômeno que se edifica após a vitória eleitoral de Lula em 2006 expressa a ideia de uma con-versão de blocos de eleitores, determinando uma agenda de longo prazo da qual nem mesmo a oposição ao governo consegue escapar. No entanto, ao considerar a trajetória do conceito na literatura norte-americana, pode-se chegar à conclusão de que a teoria recebe, na versão nacional, um escopo reducionista, em que seus principais condutores – a durabilidade, a noção de eventos críticos e a identificação partidária – não são contemplados. Diante dessas evidências, fica o entendimento de que o realinhamento é um fenômeno datado historicamente, circunscrito a uma conjuntura em que a conduta dos eleitores se organiza em torno de sólidas e permanentes identificações partidárias. Por conse-guinte, a configuração política brasileira, com altas taxas de volatilidade eleitoral e baixo enraizamento partidário, não parece se adequar a uma análise do gênero.

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Publicado

2014-02-01

Como Citar

Rennó, L., & Silva, T. M. da. (2014). Perdendo o fio da meada: ambiguidades e contradições na teoria do realinhamento. BIB - Revista Brasileira De Informação Bibliográfica Em Ciências Sociais, (77), 5–23. Recuperado de https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/388

Edição

Seção

Balanços Bibliográficos