Autonomia e discricionariedade
matizando conceitos-chave para o estado de burocracia
Palavras-chave:
Implementação, Políticas Públicas, Burocracia, Discricionariedade, AutonomiaResumo
A compreensão dos processos de implementação das políticas públicas e as transformações nos modelos de gestão pública trouxeram a burocracia e o contexto de suas ações ao centro de muitos estudos de políticas públicas. Dois conceitos ocupam um lugar central neste debate: discricionariedade e autonomia. Ambos são amplamente utilizados para caracterizar as ações do burocrata que não se restringem à relação principal-agente. No entanto, eles são comumente tratados como sinônimos, sem um questionamento sobre suas diferenças conceituais e implicações analíticas. Nosso objetivo é desenvolver uma análise crítica dos conceitos de discricionariedade e de autonomia, buscando compreender suas implicações em termos de estudos empíricos sobre as ações do burocrata estatal. Elencamos as diferentes abordagens ao estudo dos dois conceitos, seus diferentes usos e consequências analíticas, com base no mapeamento das literaturas de ciência política e de administração pública que os estudam historicamente. Como resultado, apontamos para a possibilidade de diferenciação entre quatro diferentes concepções: a autonomia das organizações; a discricionariedade enquanto espaço de ação delegado aos indivíduos; a discricionariedade enquanto ação realizada pelos indivíduos; e a autonomia dos indivíduos enquanto capacidade para agir.
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