Leituras do Leste III
o debate sobre a natureza das sociedades e estados de tipo soviético
Resumen
Conclui uma seqüência de três artigos em que foram examinadas criticamente as principais teorias sobre as sociedades e os Estados que compunham o antigo “campo socialista” no Leste. O presente artigo focaliza as distintas interpretações marxistas que identificaram a (re)emergência do capitalismo nessas sociedades já antes da “queda do muro” em 1989/1991. A resenha dessas leituras abrange a formulação original do conceito de “capitalismo de Estado” por Friedrich Engels e sua recuperação por Lênin e a liderança do Partido Bolchevique no início do século; as considerações social-democratas sobre a natureza burguesa da revolução soviética nos anos 20 (destacando as considerações de Karl Kautsky e dos mencheviques russos); a crítica dos comunistas conselhistas à experiência soviética (as posições de Herman Gorter, Anton Pannekoek, do KAPD alemão, de Karl Korsch, Arthur Rosenberg, Otto Ruhle e Paul Mattick); as reflexões de uma segunda vertente de “trotskistas dissidentes” (Raia Dunaievskaia, C. L. R. James e Tony Cliff); a teorização desenvolvi da no âmbito do Grupo Socialismo ou Barbárie (com destaque para Cornelius Castoriadis e Claude Lefort); as teses maoístas e pós-maoístas (as posições oficiais do PC Chinês e do Partido do Trabalho da Albânianos anos 60 e 70, além das reflexões desenvolvidas por Charles Bettelheim e Bernard Chavance); e a teorização desenvolvida a partir de perspectivas “mundial-sistêmicas” (como a de Immanuel Wallerstein e Robert Kurz). Ao final, é examinado criticamente o refúgio problemático da maior parte das interpretações marxistas (redesenhadas neste artigo e no anterior) sobre o conceito de stalinismo. Argumenta-se que este refúgio representa muito mais uma fuga dos problemas fundamentais que determinam a presente crise teórica do pensamento marxista do que uma tentativa corajosa de enfocá-los à luz da experiência negativa das primeiras experiências socialistas do nosso século.