Sociologia como ciência das populações

contribuições de Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle Silva no Brasil

Autores

  • Carlos Antonio Costa Ribeiro Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Palavras-chave:

Metodologia Quantitativa, Populações, Sociologia Brasileira, Estratificação Social, Epistemologia das Ciências Sociais

Resumo

Neste artigo é realizado um balanço da obra dos sociólogos Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle Silva, mostrando como as inovações que trouxeram para o estudo das relações raciais e da desigualdade social no Brasil foram alcançadas ao partirem de uma perspectiva sociológica que privilegia o estudo das populações e da estratificação social. Nesse sentido, são apresentadas as principais características da sociologia pensada como uma ciência das populações. Essa abordagem, que ganha cada vez mais adeptos em todo o mundo, faz uso de análises estatísticas de grandes bancos de dados para descrever e explicar tendências gerais em nível populacional, ao mesmo tempo em que reconhece a singularidade de cada unidade de análise (indivíduos, família, país, ou qualquer outra unidade). Os trabalhos de Hasenbalg e Silva adotaram essa perspectiva e se voltaram para temas fundamentais dos estudos de estratificação e mobilidade social. Assim, suas pesquisas não só inovaram o estudo das relações raciais no Brasil, como também foram precursoras da sociologia como ciência das populações e dos estudos de estratificação social no Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Carlos Antonio Costa Ribeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), e Ph.D. em Sociologia pela Columbia University.

Referências

ABBOTT, A. What do cases do? Some notes on activity in sociological analysis. In: RAGIN, C. C.; BECKER, H. S. (Eds.). What is a case? Exploring the foundations of social inquiry. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1992. p. 53-82.

ALMOND, D.; CURRIE, J. Human capital development before age five. In: ASHENFELTER, O.; CARD, D. (Eds.). Handbook of labor economics. Amsterdam: Elsevier, 2011. v. 4B, p. 1315-1486.

ANGRIST, J. D.; PISCHKE, J.-S. Mastering metrics: the path from cause to effect. Princeton: Princeton University Press, 2015.

BACHINI, N.; CHICARINO, T. S. Os métodos quantitativos, por cientistas sociais brasileiros: entrevistas com Nelson do Valle Silva e Jerônimo Muniz. Sociedade e Estado, Brasília, DF, v. 33, n. 1, p. 251-279, 2018.

BARBOSA, R. J. A educação e a desigualdade de renda do trabalho: um enfoque sociológico. 2017. 279 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.

BARBOSA, R. J. et al. Ciências sociais, censo e informação quantitativa no Brasil: entrevista com Elza Berquó e Nelson do Valle Silva. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 95, p. 143-155, 2013.

BOHRNSTEDT, G. W. Measurement models for survey research. In: MARSDEN, P. V.; WRIGHT, J. D. (Eds.). Handbook of survey research. 2. ed. Bingley: Emerald, 2010. p. 347-404.

BOURDIEU, P.; WACQUANT, L. On the cunning of imperialism. Theory, Culture and Society, Thousand Oaks, v. 16, n. 1, p. 41-58, 1999.

BREEN, R.; GOLDTHORPE, J. H. Explaining educational differentials: towards a formal rational action theory. Rationality and Society, Thousand Oaks, v. 9, n. 3, p. 275-305, 1997.

CANO, I. Introdução à avaliação de programas sociais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.

CARDOSO, A.; PRETECEILLE, E. Classes médias no Brasil: do que se trata? Qual seu tamanho? Como vem mudando? Dados, Rio de Janeiro, v. 60, n. 4, p. 977-1023, 2017.

CARVALHAES, F. A. O. A tipologia ocupacional Erikson-Goldthorpe-Portocarero (EGP): uma avaliação analítica e empírica. Sociedade e Estado, Brasília, DF, v. 30, n. 3, p. 673-703, 2015.

CARVALHAES, F.; CHOR, D. Posição socioeconômica, idade e condição de Saúde no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 31, n. 92, e319027, 2016.

CHARLES Tilly interview: big questions. 10’26”. Daniel Leite, YouTube, 18 dez. 2007. Disponível em:

<http://bit.ly/2MoMozf>. Acesso em: 20 ago. 2018.

CLOGG, C. The impact of sociological methodology on statistical methodology. Statistical Science, Beachwood, v. 7, n. 2, p. 183-196, 1992.

COHEN, J.; DUPAS, P. Free distribution or cost-sharing? Evidence from a randomized malaria prevention experiment. The Quarterly Journal of Economics, Oxford, v. 125, n. 1, p. 1-45, 2010.

COLEMAN, J. S. Foundations of social theory. Cambridge, MA: Belknap Press of Harvard University, 1990.

COLEMAN, J. S. et al. Equality of educational opportunity. Washington, DC: U. S. Government Printing Office, 1966.

DUNCAN, O. D. Introduction to structural equation models. New York: Academic Press, 1975.

______. Notes on social measurement. New York: Russell Age, 1984.

______. What if? Contemporary Sociology, Washington, DC, v. 21, n. 5, p. 667-668, 1992.

ELSTER, J. Nuts and bolts for the social sciences. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1989.

FERNANDES, F. A integraçã o do negro na sociedade de classes. São Paulo: Dominus, 1965.

GOLDTHORPE, J. H. On economic development and social mobility. The British Journal of Sociology, Hoboken, v. 36, n. 4, p. 549-573, 1985.

______. Sociology as a population science. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2016.

GOODMAN, L. The analysis of cross-classified data having ordered categories. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1984.

HASENBALG, C. Discriminaçã o e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

HASENBALG, C.; SILVA, N. V. Estrutura social, mobilidade e raça. São Paulo: Vértice, 1988.

______. Relações raciais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1992.

______. Race, schooling and social mobility in Brazil. Ciência e Cultura, Campinas, v. 51, n. 5-6, p. 457-463, 1999.

______. Origens e destinos: desigualdades sociais ao longo da vida. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.

HASENBALG, C.; SILVA, N. V.; BARCELOS, L. C. Notas sobre miscigenação racial no Brasil. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, n. 16, p. 188-197, 1989.

HASENBALG, C.; SILVA, N. V.; LIMA, M. Cor e estratificação social. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1999.

HAUSER, R. A life in sociology. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v. 43, p. 1-18, 2017.

HEDSTRÖM, P. Dissecting the social: on the principles of analytical sociology. Cambridge, UK. Cambridge University Press, 2005.

HEDSTRÖM, P.; BEARMAN, P. The Oxford handbook on analytical sociology. Oxford: Oxford University Press, 2009.

HEDSTRÖM, P.; SWEDBERG, R. Social mechanisms: an analytical approach to social theory. Cambridge, UK. Cambridge University Press, 1998.

HOLLAND, P. Statistics and causal inference. Journal of the American Statistical Association, Abingdon, v. 81, n. 396, p. 945-960, 1986.

KISH, L. Survey sampling. New York: Wiley, 1965.

LIEBERSON, S. Einstein, Renoir, and Greeley: some thoughts about evidence in sociology: 1991 presidential address. American Sociological Review, Washington, DC, v. 57, n. 1, p. 1-15, 1992.

LOVEMAN, M.; MUNIZ, J. O.; BAILEY, S. R. Brazil in black and white? Race categories, the census, and the study of inequality. Ethnic and Racial Studies, Abingdon, v. 35, n. 8, p. 1466-1483, 2012.

MARE, R. D. Social background and school continuation decisions. Journal of the American Statistical Association, Abingdon, v. 75, n. 370, p. 295-305, 1980. American Statistical Association 75:295-305, 1980.

______. Change and stability in educational stratification. American Sociological Review, Washington, DC, v. 46, n. 1, p. 72-87, 1981.

MAYHEW, R. J. Malthus: the life and legacy of an untimely prophet. Cambridge, MA, Belknap Press of Harvard University Press, 2014.

MAYR, E. What evolution is? London: Phoenix, 2001.

MERTON, R. Three fragments from a sociologist’s notebook: establishing the phenomenon, specified ignorance and strategic research materials. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v. 13, p. 1-29, 1987.

MORGAN, S.; WINSHIP, C. Counterfactuals and causal inference: methods and principles for social research. Cambridge:, UK. Cambridge University Press, 2007.

MUNIZ, J. O. Sobre o uso da variável raça-cor em estudos quantitativos. Revista de Sociologia e Política, Curitiba,

v. 18, n. 36, p. 277-291, 2010.

______. Preto no branco? Mensuração, relevância e concordância classificatória no país da incerteza racial. Dados, Rio de Janeiro, v. 55, n. 1, p. 251-282, 2012.

NOGUEIRA, O. Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga. São Paulo: Edusp, 1998.

PASTORE, J. Desigualdade e mobilidade social no Brasil. São Paulo: Edusp, 1979.

PLATT, J. A history of sociological research methods in America, 1920-1960. Cambridge, UK. Cambridge University Press, 1996.

RAUDENBUSH, S. W.; BRYK, A. S. Hierarchical linear models: applications and data analysis methods. Thousand Oaks: Sage, 2002.

REIS, N. I. Mudanças nas famílias brasileiras (1976-2012): uma perspectiva de classe e gênero. Rio de Janeiro: Garamond, 2017.

RIBEIRO, C. A. C. Cor e criminalidade: estudo e análise da justiça no Rio de Janeiro (1900-1930). Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995.

______. Estrutura de classe e mobilidade social no Brasil. Bauru: Edusc, 2007.

______. Contínuo racial, mobilidade social e “embranquecimento”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 32, n. 95, e329503, 2017.

RIBEIRO, C. A. C.; SILVA, N. V. Cor, educação e casamento: tendências da seletividade marital no Brasil, 1960 a 2000. Dados, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1, p. 7-51, 2009.

ROSENBAUM, P. Sensitivity analysis for certain permutation inferences in matched observational studies. Biometrika, Oxford, v. 74, n. 1, p. 13-26, 1987.

______. Observational studies. New York: Springer-Verlag, 2002.

SANTOS, J. A. F. Estrutura de posição de classe no Brasil: mapeamento, mudanças e efeitos na renda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

SCALON, M. C. Mobilidade social no Brasil: padrões e tendências. Rio de Janeiro: Revan, 1999.

SCHELLING, T. C. Micromotives and macrobehavior. New York: Norton, 1978.

SCHWARTZMAN, L. F. Does money whiten? Intergenerational changes in racial classification in Brazil. American Sociological Review, Washington, DC v. 72, n. 6, p. 940-963, 2007.

SILVA, G. M.; LEÃO, L. T. S. O paradoxo da mistura: identidades, desigualdades e percepção de discriminação entre brasileiros pardos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 27, n. 80, p. 117-133, 2012.

SILVA, N. V. Updating the cost of not being white in Brazil. In: FONTAINE, P.-M. (Ed.). Race, class and power in Brazil. Los Angeles: Center for Afro-American Studies, 1985. p. 42-55.

______. Distância social e casamento inter-racial no Brasil. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, n. 14, p. 54-84, 1987.

______. Uma classificação ocupacional para o estudo da mobilidade e da situação de trabalho no Brasil. [S.l.], 1992. Mimeografado.

______. Uma nota sobre “raça social” no Brasil. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, n. 26, p. 79-96, 1994.

______. Morenidade: modo de usar. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, n. 30, p. 79-96, 1996.

______. Brazilian society: continuity and change 1930-2000. In: BETHELL, L. (Ed.). Cambridge history of Latin America. New York: Cambridge University Press, 2008. v. 9, p. 290-360.

SILVA, N. V.; PASTORE, J. Mobilidade social no Brasil. São Paulo: Markon, 1999.

SOUZA, J. Invisibilidade da desigualdade brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

STINCHCOMBE, A. The logic of social research. Chicago: University of Chicago Press, 2005.

TELLES, E. US foundations and racial reasoning in Brazil. Theory, Culture and Society, Thousand Oaks, v. 20, n. 2, p. 31-47, 2003.

______. Race in another America: the significance of skin color in Brazil. Princeton: Princeton: Princeton University Press, 2004.

______ Ed. Pigmentocracies: ethnicity, race, and color in Latin America. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2014.

TORCHE, F.; RIBEIRO, C. C. Parental wealth and children’s outcomes over the life-course in Brazil: a propensity score matching analysis. Research in Social Stratification and Mobility, Amsterdam, v. 30, n. 1, p 79-96, 2012.

TREIMAN, D. Industrialization and social stratification. Sociological Inquiry, Hoboken, v. 40, n. 2, p. 207-234, 1970.

______. Otis Dudley Duncan’s legacy: the demographic approach to quantitative reasoning in social science. Research in Social Stratification and Mobility, Amsterdam, v. 25, n. 2, p. 141-156, 2007.

Downloads

Publicado

2018-02-01

Como Citar

Ribeiro, C. A. C. (2018). Sociologia como ciência das populações: contribuições de Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle Silva no Brasil. BIB - Revista Brasileira De Informação Bibliográfica Em Ciências Sociais, (86), 7–35. Recuperado de https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/450

Edição

Seção

Balanços Bibliográficos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)