Chefia e política na América do Sul indígena

um balanço bibliográfico para além do modelo clastreano

Autores

  • Antonio Guerreiro Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Palavras-chave:

Chefia indígena, Políticas ameríndias, Pierre Clastres

Resumo

Este artigo realiza um balanço dos principais debates sobre chefia e política nas terras baixas sul-americanas nas últimas décadas. Tomando as principais teses de Pierre Clastres como ponto de partida, discute-se como elas influenciaram o desenvolvimento de trabalhos que, a partir da década de 1980, realizaram aproximações e distanciamentos diversos em relação à proposta clastreana. Em particular, o artigo explora como as abordagens das políticas ameríndias se diversificaram a partir da ampliação dos conhecimentos etnográficos, históricos, arqueológicos e linguísticos sobre os povos das terras baixas, marcada por um esforço de aproximação das filosofias sociais indígenas e de seus próprios modos de descrição da política.

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Biografia do Autor

Antonio Guerreiro, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Pesquisa em Etnologia Indígena (CPEI), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (IFCH/Unicamp).

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Publicado

2018-07-02

Como Citar

Guerreiro, A. (2018). Chefia e política na América do Sul indígena: um balanço bibliográfico para além do modelo clastreano. BIB - Revista Brasileira De Informação Bibliográfica Em Ciências Sociais, (87), 41–70. Recuperado de https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/458

Edição

Seção

Balanços Bibliográficos