Quando novos temas entram em cena
movimentos sociais e a “questão urbana” no ciclo de protesto de junho de 2013
Palavras-chave:
Movimentos Sociais, Ciclo de Junho, Cidades, Conflito UrbanoResumo
Durante o mês de junho de 2013 milhares de pessoas se reuniram nas ruas de diversas cidades do país. Termos como “cidades rebeldes”, “insurgências urbanas” e “lutas urbanas” foram mobilizados constantemente como tentativas de dar conta do fenômeno. Este artigo tem como intuito apresentar as principais vertentes de pesquisa sociológica brasileira acerca da relação entre os movimentos sociais e a questão urbana nas manifestações em 2013. Trata-se de investigar o percurso analítico dessas questões dos anos 1980 às manifestações de junho de 2013. De que modo os autores que se debruçaram sobre o tema equacionaram a questão do espaço urbano e as mobilizações em junho? As interpretações dos confrontos em 2013 trazem em si o legado das linhas de pesquisa da sociologia urbana e política dos anos 1980 ou fundam uma nova compreensão? A hipótese principal que orienta o artigo é a de que as análises de junho de 2013 trazem a herança e as ambivalências dos estudos acerca dos conflitos urbanos nos anos 1980. Se em um primeiro momento as análises procuraram mapear as condições de emergência desses processos de mobilização por meio das condições materiais das metrópoles, em um segundo instante as experiências culturais foram mobilizadas para explicar a emergência desses novos atores coletivos.
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