Carreiras políticas e desigualdades
elementos para uma crítica feminista do campo político
Palavras-chave:
Carreiras políticas, Elites políticas, Gênero e política, Estudos feministasResumo
O artigo traz uma revisão crítica dos estudos sobre carreiras políticas, levantando pontos de contato e de distanciamento entre as subáreas dedicadas ao tema, principalmente entre os estudos baseados na literatura neoinstitucionalista de escolha racional que focaliza o problema da conexão eleitoral (Ames, 1995; Samuels, 2008; Pereira; Rennó, 2001; 2013) e as investigações da sociologia política que se dedicam a compreender os perfis e as trajetórias de agentes do campo da profissionalização política (Santos, 1997; Miguel, 2003; Rodrigues, 2006). Para além dos debates tradicionais, o texto teve o objetivo de apontar questionamentos conceituais, teóricos e metodológicos das abordagens feministas sobre as carreiras políticas nos regimes concorrenciais (Araújo, 2010; Miguel; Biroli, 2010; 2011; Sacchet, 2012; Sacchet; Speck, 2012), que deslocam pressupostos e valorizam problemas que, apesar de evidentes, foram tradicionalmente ignorados, mas que têm o potencial de reposicionar as principais questões de pesquisa sobre as carreiras políticas.
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